Metáfora da arrumação do guarda-roupa

Utilizo em alguns trabalhos de formação de professores uma metáfora para explicitar o momento de mudança na educação. A metáfora da arrumação de um guarda-roupa. A gente não consegue arrumar um guarda-roupa com tudo lá dentro… Ora, para que seja possível uma organização efetiva é necessário “tirar tudo pra fora”. Este momento pode parecer uma bagunça, porque tudo fica desorganizado. Mas o “tirar do guarda-roupa” não significa jogar fora tudo o que lá está. Porque há muita coisa que me serve… que me é útil… Mas é verdade que há muita coisa que precisa ser reciclada, jogada fora, dada a outros que ainda não tem… Será difícil que eu me desfaça de muitas coisas. Será doído se desfazer de algumas roupas que eu tenho usado durante muitos anos… Feita esta seleção (um diagnóstico e um planejamento) bem feita, é possível retornar ao guarda-roupa somente com o que realmente vou utilizar e me será útil… Vou poder perceber até que uma roupa, às vezes bem velhinha, pode ser reformada e pode continuar sendo usada… Posso encontrar roupas que estavam “lá no fundo” e que eu não usava mais porque nem lembrava que ali estavam porque muita coisa desordenada fora colocado na frente. E, no final de tudo isso (deste grande processo), vai me sobrar espaço no guarda-roupa para novidades… Para completar com coisas novas… Talvez com roupas mais coloridas e mais alegres e que caiam bem no momento atual… Não somente porque “é a moda”, mas porque eu (professor!) realmente me sentirei bem com as roupas novas, misturadas com algumas antigas, com novos acessórios, fazendo um look totalmente “repaginado” e renovado. E o guarda-roupa estará organizado para eu possa visualizar e dispor das peças conforme for conveniente e adequado para cada ocasião. Por um tempo o guarda-roupa vai ficar super organizado, mas no dia-a-dia ele irá ser desorganizado. E precisará de novas arrumações… É um processo! A mudança é isso… Um eterno arrumar o guarda-roupa…

 

Refletindo sobre educação… Alunos e Professores…

Uma brava guerreira no corpo de menina
Texto de Eliana Mara Chiossi

No último sábado, aconteceu outro encontro inquietante: os professores inquietos, sob a regência de Adriana Gandin, reunidos para descobrir as potencialidades dos usos de novas tecnologias, como o IPAD, para renovação no modo de fazer as aulas acontecerem. No meio do encontro, chega uma convidada especial, já esperada por nós.

Entra na sala uma mocinha, quase menina, magrinha, cabelos cacheados, tímida e aparentemente frágil. Depois de ser apresentada, ela inicia sua participação, mostrando seu ponto de vista, enquanto aluna, sobre o atual estado da educação. Ela está no segundo ano do Ensino Médio de um colégio particular de Porto Alegre.

Após alguns minutos, o que eu via ali na frente era uma guerreira, com coragem suficiente de falar, para uma plateia de professores, que ela não acredita que o sistema educacional possa continuar do jeito que está. Que há alunos que pensam como ela. E que do jeito que a escola anda funcionando parece muito semelhante a um sistema industrial ou uma prisão.

Ao mesmo tempo que ela não estava dizendo algo novo, certas reações indicavam que ela dizia algo parecido com uma heresia. Como poderia uma aluna chegar diante de professores e simplesmente por o dedo na ferida que não cessa? A escola, do jeito que está, ou muda ou sucumbe.

E esta mocinha disse isso, do fundo de seu coração puro, com coragem, com determinação, porque ela quer mais, ela não quer apenas ser aprovada no Vestibular, ela não quer mentir para ser aprovada. Ela quer acreditar no que acontece dentro da escola, para poder acreditar que a escola quer fazer um mundo melhor.

Quando ela saiu, senti que ficou um vazio, desses vazios escandalosos, que fazem barulho. Era preciso seguir nosso roteiro. Era preciso fazermos nossas atividades. Mas talvez se fosse possível, poderíamos ter ficado em silêncio, por algum tempo, deixando que as palavras desta menina nos atingissem, na mente, no corpo, na alma. Nós, que estamos buscando diariamente a coragem para manter a inquietação, a coragem para fazer da educação aquilo que ela precisa fazer: a diferença. E só se faz diferença sendo corajoso suficiente para fazer diferente todos os dias.

 

 

 

Inteligência Coletiva

Vídeo com os melhores momentos do evento Inteligência Coletiva.

Acesse e conheça >> http://professoresinquietos.com.br

 

Doses homeopáticas de sabedoria – parte 6

6. Repito: as disciplinas são importantes para especializar; os cursos superiores não podem trabalhar transdisciplinarmente porque as disciplinas são imprescindíveis para o aprofundamento necessário. Sobretudo a partir do século dezoito as disciplinas passam a ter importância cada vez maior porque cada ser humano não podia mais dominar o conhecimento que se avolumava rapidamente. O modelo de escola atual, esquematizado naquele século, nasce disciplinar porque – parecia – o conhecimento repartido em fatias poderia ser dominado por todos. O desenvolvimento infindável do conhecimento e as condições humanas após as duas grandes guerras inviabilizaram este modelo: as cabeças mais ilustradas, desde o último quartel do século passado, insistem no holismo, na necessidade de não limitar o ensino a algumas disciplinas e de alargar os horizontes do saber. Até a UNESCO sintetiza uma proposta pedagógica, possível entre outras possíveis: “aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver”. A escola, quando nela trabalham pessoas sensatas, debate-se entre realizar algo deste tipo e passar poucas disciplinas obrigatórias (que, nos discursos, fora do que escrevem, as autoridades educacionais chamam de sugestões).

Texto de Danilo Gandin

Doses homeopáticas de sabedoria – parte 5

5. Vejam como funcionaria a transdisciplinaridade total no ensino básico. (Apontarei, adiante, processos, já possíveis hoje, que não vivenciam a transdisciplinaridade total, mas que caminham para ela). A transdisciplinaridade supõe o cancelamento de qualquer disciplina, embora conteúdos disciplinares possam e devam, algumas vezes, ser trabalhados por pequenos períodos. Na prática, cada turma de alunos, preferentemente agrupados por idade, teria apenas um professor para ajudá-los a estudar questões da natureza e temas ligados à sociedade e à cultura, com a finalidade de que cada um busque sua própria identidade, domine ferramentas para participar na sociedade, assuma um compromisso social, viva algum tipo de transcendência e se abra para crescer indefinidamente. Esta proposta não visa a diminuir o leque de trabalho e de estudos, mas a quebrar limites e a abrir horizontes incomensuráveis. (Esta reflexão está compacta demais: voltarei para uma análise).

Texto de Danilo Gandin

Doses homeopáticas de sabedoria – parte 4

4. Meu propósito é voltar depressa a falar na transdisciplinaridade. Mas preciso, antes, afirmar uns pontos que são fundamentais. Não se trata de fazer da escola um lugar de superficialidade. É preciso que se tenha clareza sobre o que se quer alcançar e, junto com isto, que se saiba caminhar na direção do que se quer. A escola terá que ser espaço onde as pessoas, talvez principalmente os alunos, busquem sua própria identidade e se apropriem de instrumentos para participar na sociedade. Isto significa trabalhar em três frentes: a dos valores, a das habilidades e a dos conhecimentos, estes resumidos em duas dimensões, a de conhecer, cada vez mais, a natureza e a de compreender melhor a sociedade e a cultura. Para isto é necessário um processo de planejamento que seja participativo e que seja ferramenta para propor um rumo, para analisar a prática à luz desse horizonte e para determinar o que se vai ser e o que se vai fazer para caminhar na direção de tal horizonte.

Texto de Danilo Gandin